Capítulo IV

REGRESSO DEFINITIVO DE ANGOLA, COMO 1º SARGENTO E PERCURSO CRIATIVO E INVENTIVO

Após ter permanecido, ininterruptamente em Angola, para onde fui livremente a 18 de Fevereiro de 1958, tendo desembarcado em Luanda a O6 de Março de 1958, como civil, até 19 de Fevereiro de 1961; e a 20 de Fevereiro/1961, após 16 dias do rebentamento do terrorismo, em Luanda, 4 de Fevereiro de 1961, com ataques à Casa da Reclusão, 7ª Esquadra da P.S.P./ Estrada de Catete e Viaturas com Agentes da P.S.P., na Casa Branca (S. Paulo – Luanda) a 100 m da Rua de Benguela, onde eu morava, com uma carnificina indiscritível, ingressei no Curso de Sargentos Milicianos, como Soldado Recruta, na Escola de Aplicação Militar de Angola, em Nova Lisboa, e ao cumprir os 4 anos de serviço obrigatório, para os militares do Recrutamento da Província de Angola, como 1º Cabo Miliciano e Furriel Miliciano fui criando condições e concorrendo aos concursos que iam abrindo para ingresso nos Quadros Permanentes de Sargentos, em todo o Exército Português.

Furriel do Quadro Permanente do Serviço de Administração Militar em 23 Dezembro de 1963, ainda em serviço obrigatório, optei por seguir a vida militar.

Promovido a 2º Sargento do Q. P. do S. A. M. em 31 de Dezembro de l965.

Promovido a 1º Sargento do Q.P. do S. A. M. em 1 de Janeiro de l970, posto com que regressei definitivamente a Portugal em 28 de Agosto de l975, após 17,5 anos de permanência em Angola.

Mais um, com mulher e três filhos, dos milhares de contemplados, pela exemplar descolonização Portuguesa.

Fui portador duma doença, considerada como adquirida em serviço, por despacho de 24 de Junho de 1974 do Exmo. Senhor General Comandante da Região Militar de Angola.

 

Após o regresso definitivo o estado de saúde, já abalado, foi-se agravando dia após dia, frequentando as consultas respectivas, no H.M. do Porto.

A minha 1ª colocação foi no Regimento de Administração Militar, desde 28 de Agosto de 1975, mas ficando apresentado nesta data, no Depósito Geral de Adidos, para gozo das licenças a que tinha direito, para tratar da acomodação alojamento, de mulher e filhos, tratando de suas matrículas, levantamento e transporte dos móveis e viaturas que tinha embarcado no cais em Luanda a 24 de Agosto militarmente e seu levantamento no dia 16 de Setembro de 1975 directamente do Cais de Alcântara do Navio “PANRANS”, para 3 viaturas pesadas de aluguer, que seguiram viagem para um armazém em Matosinhos, onde os caixotes, de grande porte, ficaram armazenados até 22 de Outubro de 1975, data em que foram transportados pouco a pouco, para a Travessa Egas Moniz – (Barraca) – Jovim – Gondomar, prédio do Sr. Manuel Serrano – 1º Dtº com uma boa garagem exterior, onde eram guardados e abertos os caixotes com todo a mobília que equipava o nossa residência na Rua Alberto Correia – Vila Alice; maquinaria, móveis e utensílios da nossa Churrasqueira da Vila Alice de Luanda.

Com a família devidamente alojada, depois de andarmos a ser arrojeitados de um lado para o outro, na Residência do meu querido Tio Paterno Pe. Aires Mendes Moreira Fernandes, Rua do Pinheiro Manso nº 217, propriedade das Irmãzinhas dos Pobres, Capelão das mesmas e ali estivemos até 26 de Outubro de 1975 dia em que ocupamos a casa em Jovim, com tudo montado, tendo sido oficialmente a ocupação em 1 de Novembro de 1975.

 

A 30 de Outubro pelas 09h30 fiz a minha apresentação oficial no R.A.M. (Regimento de Administração Militar) em Torres Novas, onde prestei serviço até 31 de Dezembro de l975. Tendo-me deixado marcado com algumas peripécias, de muita importância:

1º - Sargento da Guarda ao R.A.M. no 25 de Novembro de 1975, numa unidade de apoio aos (S.U.V.´s) Soldados Unidos Venceremos de todo o País, com panfletos subversivos e impressos no sótão da Unidade, a praga que arruinou a disciplina Militar dos Três Ramos das Forças Armadas, nunca me deixando intimidar, guardando-lhes o máximo respeito e exigindo.

2º - Pedras mármores partidas propositadamente pelos S.U.V.’s, reinando neles o espírito de destruição total, sendo-me dadas, posteriormente, pelo próprio Comandante Sr. Major SAM Eugénio de Oliveira.

3º - Feitura da 1ª maqueta da Churrasqueira a Carvão Electromecanizada, dia e noite no Regimento de Administração Militar, durante o tempo que ali permaneci de 30 de Outubro a 1 de Janeiro de 1976; e que a 20/03/1976 viria a ser entregue ao Senhor Eng.º Saúl dos Santos Pintado da MOBBA na Rua da Constituição, com Fábrica na Ponte da Pedra, onde viria a fabricar o 1º Protótipo, com entrega da 1ª Tranche de 39.000$00, num total de 117.000$00, com mais 2 tranches de 6 em seis meses a partir da data de entrega, conforme prova o recibo a seguir.

Minha mulher dizia-me constantemente: ”Só com o teu vencimento, não podemos dar aos filhos aquilo a que estavam habituados e uma educação condigna, temos de arranjar uma casa, para aplicarmos os utensílios que trouxemos e montarmos um minimercado”, tendo concordado de imediato.

Em Outubro, meteu-se a caminho, com uma minha Tia Rosa de Aniceto Castro Moura, residente no Souto – S. Cosme – Gondomar, foram ver umas casas e conseguiram uma na Rua 25 de Abril nº 492, pela renda de 4.000$00 mensais, que aceitou e começamos a equipá-la com a maquinaria e frio que trouxemos, comprando outro, que faltava e assim começou a funcionar o 1º minimercado em S. Cosme Gondomar em Janeiro de 1976, incluindo a venda de peixe fresco e congelado e quando sobrava peixe fresco, ia na viatura com a empregada Sra. D. Amália, no horário de fecho, procurar vende-lo pelas portas, para minimizar o prejuízo.

Em Abril/1976 vaga-se uma casa de bicicletas mesmo ao lado no mesmo prédio, ficamos com ela, pela mesma renda de 4.000$00, começando a arranjá-la e equipá-la, para funcionar como “Churrasqueira Galo de Ouro”, ainda hoje em funcionamento. Trespassando o minimercado em 1978 ao Sr. Germano Baptista.

Não ia para o Regimento de Administração Militar em Torres Novas, sem irmos fazer compras de frescos e frutas ao Mercado Abastecedor que funcionava na Via Rápida com a Rua 5 de Outubro, minha mulher a comprar e eu a carregar às costas para a Viatura Opel PerKins e só depois de descarregar em Gondomar é que seguia para Torres Novas.

A churrasqueira foi equipada com a máquina (minha invenção) executada pelo Sr. Eng.º Saúl dos Santos Pintado, dando raia, erro de cálculo logo na inauguração, 2 semanas antes da festa de Nossa Senhora do Rosário, padroeira de Gondomar e o que era uma máquina mecanizada, passou a ser manual e chamado à atenção e responsabilizado por escrito, nunca fez a reparação, não recebendo as duas tranches que faltavam.

4º - As pedras mármores que tanta celeuma deram, ficando tudo em nada, porque o próprio Comandante impôs-se, depois de preparadas fizeram-me um jeito, que só visto, para equipar com o máximo de limpeza a Zona de preparação dos frangos.

 

Transferido do R.A.M., para o B.A.M. (Batalhão de Administração Militar) – Póvoa de Varzim, aumentado ao seu efectivo desde 1 de Janeiro de 1976, prestando serviço na comissão liquidatária do R.A.M., pela sua extinção, fora do batalhão, num prédio alugado para o efeito, até 17 de Abril de 1977.

Durante o tempo que prestei serviço na Comissão Liquidatária do R. A.M., pertencendo ao B.A.M. – Póvoa de Varzim, passava pela AGROS em Vila do Conde e trazia a carrinha OPEL carregada de leite, era ouro naquela altura e quando precisávamos de peixe ia mais cedo, para a lota da Póvoa de Varzim, onde estavam uns amigos vindos de Luanda e dispensavam-me ao preço de custo o peixe que eu necessitasse e mo guardavam até eu ir embora.

Transferido do B.A.M., para a M.M. – Manutenção Militar – Sucursal do Porto em 18 de Abril de 1977, tendo ido exercer as funções de Tesoureiro no Supermercado Militar nº 3 – Rua da Boavista, até 10 de Dezembro de 1980.

Durante a minha estadia como Tesoureiro no Supermercado Militar, Rua da Boavista, paredes com o Colégio Universal e ainda por ter lá como professor de Português e Religião e Moral o meu Querido Tio Pe. Aires Mendes Moreira Fernandes, tendo sido meio caminho, para eu pedir a transferência dos meus filhos Manuel Adelino, Ana Dulce e para a Infantil Paula Alexandra, visto os trazer comigo de manhã cedo, pois demorávamos 1 hora e 20 minutos de Jovim à Praça de República – Rua da Boavista; lanchavam de manhã e à tarde no bar do Supermercado e almoçavam comigo no refeitório por uma bagatela e tinha-os sempre debaixo de olho, tanto no Colégio, como no Supermercado, até irmos embora; o que hoje se faz em 20 minutos.

Tive-os ali comigo até ao fim do ano lectivo 1979/1980, com transferência de Matrículas para o Colégio Paulo VI, dos Capuchinhos em Gondomar.

Transferido da Manutenção Militar – Sucursal do Porto para a D.S.F. – Direcção do Serviço de Finanças do Estado-Maior do Exército, rua Rodrigo da Fonseca – Lisboa, em 11 de Dezembro de 1980, prestando ali serviço até 11 de Agosto de 1981.

Passei à situação de reserva por ter sido julgado incapaz do serviço activo pela Junta Hospitalar de Inspecção do Hospital Militar Principal – Lisboa (J.H.I./H.M.P.) em sessão de 12 de Agosto de 1981.

 

A minha mulher tinha razão em dizer que só com o meu vencimento não nos safávamos, e foi verdade porque com a CHURRASQUEIRA GALO DE OURO 1ª do género, frango aberto e na brasa com um tempero muito próprio, foi a nossa em PORTUGAL em 1976, foi sim a MINA DE OURO.

Desde que abrimos em Gondomar Outubro de 1976, todos os frangos ao fim de semana, quem os assava era eu, em 1978,1979,1980 atingimos o auge entre 1.000 a 1.300 ao fim de semana, era impressionante e quando abrimos em Matosinhos estava a Maqueta funcionável na montra, era um chamariz para irem ver o protótipo em funcionamento e já não iam embora sem levarem churrasco, promoção directa, com publicidade.

 

Os 27 anos de serviço efectivo, com 12 anos de aumentos no Ultramar, perfizeram os 36 para efeitos de reserva total, sem descontos, e reforma em 1 de Janeiro de 1995, 31 dias antes de completar os 45 anos de idade.

Uma mais valia para o enriquecimento dos meus conhecimentos:

- 6 Anos em Mobilização e Concelho Administrativo.

- 11 Anos Vaguemestre (Ecónomo) na orientação da aquisição e confecção de alimentos, no Hospital Militar de Luanda – Doentes, Praças e Pessoal de Serviço.

- 4 Anos Tesoureiro no Supermercado Militar nº 3 – Porto, Rua da Boavista, era a única grande superfície, da época, no Porto, tinha um movimento louco, só ao sábado faziam-se 25 a 30.000 mil contos, foi um tempo de muito trabalho, mas maravilhoso.

- 6 Anos Gerente Adjunto na Messe de Sargentos do Porto, Rua Prof. Duarte Leite,

Desde que fui escolhido, para a gerência da Messe de Sargentos tive de pôr em prática todos os meus conhecimentos de culinária, com a minha presença na cozinha, de vez em quando, elaborando de novo e compondo 200 ementas de carne e 150 ementas de peixe, ainda hoje executadas na Messe de Oficiais da Batalha, Messe de Sargentos do Porto, Rua Prof. Duarte Leite e também foi uma riqueza o contacto directo com 50 e poucos estudantes Universitários (M. e F.), que pensavam dar-me cabo da cabeça, mas entendi-os muito bem, embora com algumas expulsões da Messe, durante o tempo que lá permaneci.

 

Desde a nossa chegada 1975 a Janeiro de 1980 abrimos 4 casas, 2 em S. Cosme – Gondomar, Minimercado e Churrasqueira Galo de Ouro na Rua 25 de Abril, nºs 490, 492, casas distintas, mas pegadas e 2 em Matosinhos (1 enfrente à R.A.R.) na Praia, autorizada pelo Senhor Capitão de Mar e Guerra ALBUQUERQUE, Comandante do Porto de Leixões e outra a Churrasqueira Galo de Ouro na Rua Brito Capelo – Matosinhos.

Construímos na Rua Sá Carneiro nºs 166, 168 – S. cosme – Gondomar, uma vivenda de R/C, 1º e 2º andares com a base de 144 m2 com começo em 1978 e terminada em fins de Setembro, sendo ocupada no dia 1 de Outubro de 1980, por mim, minha mulher, Filhos e Sogros, nunca abandonados por mim, filha e netos, pois foram para mim uns segundos Pais em Angola, pela quantia de 1.200.000$00 (Um milhão e duzentos mil escudos) empréstimo do B.C.P.P. com juros bonificados.

Foi responsável pela obra o Senhor Eng.º Defensor Castro e executante o Empreiteiro Manuel de Castro Patrício.

A minha actividade não pára e compro, em fins de 1981, uma Furgão Fechada de 1.500 kg, Mercedes Benze MB 130 HU – 06 – 29, sem nenhum de entrada, a pagar 28.000$00 por mês, em 36 prestações, começando a fornecer a Sucursal da Manutenção Militar do Porto, de legumes e frutas.

Inscrevi-me como comerciante na Associação dos Comerciantes em Gondomar e nas Finanças que me exigiram um armazém, servindo o R/C da nossa Residência.

Logo tive necessidade de arranjar um sócio, que tivesse apenas viatura de carga e vontade de trabalhar, convidando um conhecido de Luanda – Angola António Dias Navalho que apenas trabalhou comigo de 1 de Fevereiro a 9 de Abril de 1982, tendo-lhe pago a linda importância de 146.767$00, mediante recibo assinado, faltando-lhe vontade de trabalhar, pondo-o logo a andar.

De imediato convidei um Tio Paterno Luciano Moreira Fernandes, pouco mais velho que eu, aceitando de imediato, logo comprou, a pronto de pagamento, uma Carrinha MITCHUBICHI de caixa aberta 1.500 kg e enquanto não a recebeu andava comigo nas cargas e descargas, visto termos de usar a minha mais vezes e tudo preparado a tempo e horas, enquanto não lha entregaram.

Foi um assombro o nosso contacto e trabalho meticuloso, tínhamos dias de quase não ir à cama.

E assim trabalhamos os dois, Tio e Sobrinho, de 10 de Abril de 1982 a 30 de Setembro de 1984, que por motivos de doença e muito cansaço tivemos de abandonar, de comum acordo, este trabalho de muita rendibilidade.

Mediante os recibos que ambos assinávamos consta que, retiradas todas as despesas, recebemos cada um 3.076.243$50, dando uma média de 106.077$36 de vencimento mensal a cada um, com todas as despesas de combustível, quilometragem e alimentação e pagamento de horas a tarefeiros, quando o serviço era em excesso.

O Ambiente familiar deteriorado desde que chegamos, passa das marcas e para evitar o escândalo, decidi afastar-me, recusando a lavagem de roupa suja, deixando intacto o que apenas existia, fruto do trabalho de todos, Pais e Filhos, desde Abril de 1982, a churrasqueira Galo de Ouro e o Prédio com R/C, 1º e 2º andares, ambos em S. Cosme de Gondomar, a enxada de trabalho, uma mina de ouro, a casa para todos residirem e duas viaturas. Retirando-me para a Messe de Sargentos em 26 de Novembro de 1986.

CRIATIVIDADE E INVENÇÃO



Desde que regressei de Angola, fiz a 1ª em cartolina, que me demorou quase 4 meses, não contabilizando horas dia e noite, tendo sido executada, mas o construtor fazendo o que idealizei aplicou cálculos errados na espessura do material, tendo avariado o maquinismo aplicado, passando a funcionar manualmente, pois com a fama criada na confecção dos frangos não dava para interrupção do trabalho, embora tivesse de ser aplicado o triplo de sacrifício e eu que o diga, principalmente nos fins-de-semana, visto o serviço de assar, chegavam a passar-me pelas mãos 1.000 a 1.300 frangos e às vezes não funcionando o exaustor, para a sucção dos fumos que por vezes se tornavam tóxicos, mas à base de leite fresco, chegava a beber 3 litros numa manhã, ia atenuando.

 

Devido a esta falha meti-me a construir outra Maqueta funcionável, que me demorou três anos, a menina dos meus olhos que mandei construir, com a minha total responsabilidade na orientação, até na aquisição dos materiais. Foi aplicado na 2ª Churrasqueira Galo de Ouro, Rua Brito Capelo – Matosinhos.

 

A partir da 1ª e seu registo no I.N.P.I. – Português e idas aos Salões de Invenções e Técnicas Novas, Internacional de Genebra e Mundial de Bruxelas, e recebimento de uns rebuçaditos, foi um nunca mais parar com Invenções, Modelos de Utilidade e Modelos Industriais, anexando diversos trabalhos que pormenorizadamente falam de toda a minha criatividade e Inventiva, apenas registada, e na qual em tempo, que os contos de Reis eram dinheiro, contabilizado há 10 anos atrás cheguei aos oito mil e quinhentos contos (8.500 contos) gastos, dando origem a quase todas as desavenças familiares, tive de parar, com muita pena minha, mas ou o “OBI” ou o casamento.

Primeira ida a um salão de Invenções e Técnicas Novas em Genebra.



No dia 19/11/1980, pelas 10h30, parti do Porto, à boleia, com destino a Lausanne, num Carro Datsum de Matrícula Suíça, sendo proprietário o Rvdº. Pe António Augusto Múrias de Queirós, responsável pela Missão Católica Portuguesa de Lausanne, acompanhante e por vezes condutor um sobrinho do Sr. Pe. Múrias o jovem Licenciado em Economia Dr. Joaquim Manuel Queirós (QUIMAS) que ia gozar durante 3 meses a recompensa do seu fim de curso, dada pelo Tio.

Chegados a Lausanne em 20/11/1980 pelas 16h40, aí me instalei no “HOTEL DA MISSÃO CATÓLICA” e cujas dependências do “HOTEL” são apenas um escritório, uma sala, um quarto, cozinha e casa de banho; mas que tem servido de “ALBERGUE” e casa de visitas a centenas de PORTUGUESES, tendo como cozinheiro-chefe, ajudante e executante o indescritível Sr. Pe. Múrias.

Aí nos estavam a receber um Português radicado Sr. Viegas, que, pela força das circunstâncias, aí se encontrava instalado e uma Menina “ANTONIETA” que aí se tinha deslocado, para preparar o jantar de chegada.

Passou então o HOTEL (cognominado da MORTE LENTA), mas que nunca fez emagrecer alguém, a contar na sua recepção, com um total de 4 hóspedes.

O Senhor Pe. Múrias, homem de uma mística religiosa profunda, moral inconfundível e auxílio extraordinário permanente, tudo isto bem testemunhado, por milhares e milhares de “DECOLORES” de ANGOLA, PORTUGAL, ESPANHA e SUIÇA, a quem com todos os dons que Deus lhe deu e conservou os levou e tem guiado para bom caminho.

Verdadeiro Missionário Português que não regateando horas de descanso e distâncias, aí está para dar uma palavra de conforto e amparo ao núcleo de Portugueses radicados e de passagem pela Suíça.

No dia 24/11/1980, começou a luta para preparação de toda a papelada com a descrição resumida das “CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS, RENTABILIDADE e APROVEITAMENTO MÁXIMO DA ENERGIA COLORÍFICA PRODUZIDA” da Máquina Churrasqueira a Carvão Mecanizada que eu ia apresentar (meu 1º invento) no 9º Salão Internacional de Invenções e Técnicas Novas em Genebra.

Estes panfletos foram feitos na Missão Católica de Lausanne, pelo Redº. Pe. António Augusto Múrias de Queirós, seu Sobrinho Dr. Joaquim Manuel Queirós e por mim, aquando da minha 1ª Exposição no Salão Internacional de Invenções e Técnicas Novas em GENEBRA de 27 de Novembro a 7 de Dezembro de 1980.

A ida da Delegação Portuguesa apenas foi concretizada pela Associação Portuguesa de Criatividade, só depois do subsídio dado pelo Instituto Nacional de Investigação Científica e Tecnológica no dia 15/XI/1980, e eu nada ter preparado, por escrito, que elucidasse o grande número de público visitante e “JURI”; apenas tinha a Maqueta e a documentação do colectivo de Registos, para o total funcionamento da máquina.

Mas com todo o óptimo maquinismo de que o Sr. Pe. Múrias dispõe, que é uma autêntica tipografia em miniatura, equipada por ele aos poucos, estamos em Novembro de 1980.

Começou por fazer o modelo para as gravuras dos panfletos informativos em Português e em Francês, retrovertido pelo Sr. Pe. Múrias e depois a impressão em “OFESET”.

Três dias e noites de luta constante Sr. Pe. Múrias, Dr. Quimas e eu, para no dia 27/11/1980, com tudo feito, nos deslocarmos para Genebra, a fim de montarmos a Churrasqueira, que havia chegado, por via aérea, no dia anterior, para assim o rico conjunto Português de Invenções ficar concluído, a fim de neste mesmo dia às 17h00, se dar inicio à inauguração oficial do Salão.

No dia 28/11/1980, depois de eu e o Dr. QUIMAS termos perdido o comboio das 09h40 de Lausanne para Genebra, finalmente ali chegamos, pelas 11h30, depois de um pelotão de Jornalistas, Fotógrafos, Rádio e TV terem passado, pelo Sector Português, que lhes despertou o maior interesse e ao quererem pôr em funcionamento o maquinismo da Churrasqueira, encravaram-na e rebentaram os cabos de elevação e descida, ainda não lhe tinha aplicado o cursor automático limitativo de subida e descida.

Ao chegar e ver a máquina em tal estado, fiquei momentaneamente sem uma pinga de sangue, descontrolei-me por completo; mas a calma, inteligência e sangue frio do Licenciado em Economia Dr. QUIMAS que mais parecia um Licenciado em Electromecânica, acompanhando-me até final, sem olhar a sacrifícios de descanso, deitamos mãos à obra e a máquina ficou de novo em pleno funcionamento de rotação das grelhas, sistema de elevação e descida do bloco móvel, com a aplicação de cabos de aço novos, passando a funcionar, a partir deste momento, só com a ordem e pressão do meu dedo, para todas as movimentações; quando me ausentava desligava tudo.

A alegria voltou de novo ao meu rosto e de toda a Delegação Portuguesa.

Os dias foram passando e o sector português, se despertou a atenção de todo o público e até Inventores na abertura, aumentou extraordinariamente de seguida TV, Rádio, fotógrafos e jornalistas, não largavam o nosso pavilhão, indescritível.

A simplicidade do Super-homem, inteligentíssimo em todos os campos, Sr. Eng.º Humberto Duarte da Fonseca, Presidente da A.P.C. (Associação Portuguesa de Criatividade) e Presidente da Delegação Portuguesa, neste 9º Salão de Invenções, era reconhecida por todos os Sectores Internacionais do Salão, pois nomeado, como membro do JURI INTERNACIONAL, se fazia passar, como simples visitante do Salão, sem que os Inventores de todas as Nacionalidades presentes, alguma vez se tivessem apercebido da honrosa e difícil missão que lhe era confiada, para que, com o seu ar e porte de verdadeiro intelectual que é, ir analisando pormenorizadamente os inventos expostos, desde o aparelho mais sofisticado e complicado, ao simples parafuso; falava com todos e discutia pormenores dos inventos; chegando ao ponto de ir novamente com os JURIS individuais, ao Sector Espanhol, pois não levavam Delegado e muito prejudicados seriam; para lhes explicar o funcionamento e prática de cada invento, em Francês ou Inglês, visto nenhum dos nossos irmãos Espanhóis saber exprimir-se em nenhuma das duas línguas.

Só aconteceu porque o Eng.º Duarte da Fonseca estava lá, para que, como sempre, levar pela mão os Portugueses e não deixar ao desamparo “LES NOSTROS ERMANOS”, que connosco se comportaram de uma maneira fraterna indescritível, até no momento mais difícil que atravessamos no Salão, morte de Suas Exas. o 1º Ministro, Ministro da Defesa e restantes acompanhantes, pedindo-nos um pouco de pano preto que colocamos nas nossas Bandeiras, para colocarem nas de Espanha.

O Sr. Eng.º Duarte da Fonseca fez sofrer os Portugueses, e digo isto, porque sendo membro do Júri Internacional e sabendo já no dia 02/12/1980 de todas as classificações Portuguesas, manteve um sigilo inquebrantável, até ao dia 04/12/1980 pelas 10h30, embora sempre com o sorriso do homem que vive, para isto e não disto.

Chegou o dia 04/12/1980 e mais umas horas a Delegação Portuguesa viveu, num profundo desconsolo, depois de verem ser distribuídos prémios, sem que algum desses fosse para Portugal; e todos nós representantes pensamos unanimemente que o nosso Portugal pequenino era esquecido, mas não.

A hora da verdadeira recompensa, do esforço e sofrimento, havia chegado e o nome de PORTUGAL, com letras grandes surge, quando a presidência da mesa delega no Sr. Eng.º Humberto Duarte da Fonseca o anuncio das recompensas, atribuídas pelo JURI INTERNACIONAL do Salão; a chamada:

 

MANUEL DO NASCIMENTO PEIXEIRO – Empregado Metalúrgico – Com a presença de um Aspirador Industrial – 1 Medalha de Prata

 

JOSÉ COELHO DOS SANTOS – Industrial – Com a presença de um bloco com encaixe, nas 4 faces – 1 Medalha de Prata

 

JORGE DA GLÓRIA COSTA PERROLAS – Industrial – Com 2 presenças diferentes de uma tampa sanitária, com a evacuação dos cheiros formados nos interiores – 2 Medalhas de Bronze

 

LUÍS FILIPE DOMINGOS BASTOS – Estudante – Com a presença de um potenciómetro de cursor esférico – 1 Medalha de Bronze

 

HERMÍNIO PAIS DE ALMEIDA – Empregado Metalúrgico – Com a presença de um visor movível, adaptável a uma máscara de soldar, que permite as mãos livres – 1 Medalha de Prata

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Com a presença de um alicate polivalente com oito (8) aplicações diferentes – 1 Medalha de Prata

 

VITORINO JOAQUIM DA SILVA MOREIRA FERNANDES – 1º Sargento do Exército Português – Com a presença de uma Churrasqueira a Carvão Electromecanizada, com aproveitamento máximo da energia calorífica – 1 Medalha de Prata Dourada

 

ANTÓNIO FERREIRA DOS SANTOS CRUZ – Industrial – Com a presença de uma tenda pneumática, montada em cima do tejadilho de um carro – 1 Medalha de Prata Dourada

 

JOSÉ COELHO DOS SANTOS – Industrial – Pela invenção, já atrás descrita e contemplada pelo JURI do Salão – 1 Medalha de Ouro dada pela ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

 

Aos 8 Inventores Portugueses foram-lhes atribuídas 10 (dez) medalhas, o que foi considerada uma percentagem de prémios muito elevada, não alcançada por nenhum dos 38 Países presentes.

Os sofrimentos passaram e veio de seguida a alegria indescritível da concessão das 2 Medalhas de Prata Dourada, 4 Medalhas de Prata, 3 Medalhas de Bronze, atribuídas pelo JURI INTERNACIONAL do SALÃO DE GENEBRA e para consolação máxima a atribuição de 1 Medalha de Ouro, por um Organismo Mundial (O.M.P.I.).

Dia 04/12/1980 inesquecível na memória de todos os Portugueses presentes e na de quase todos, pois a honra foi para PORTUGAL pequenino, que no 9º Salão de Invenções e Técnicas Novas de Genebra foi escrito com letras grandes.

A alegria continuou pelo dia fora, até que à noite, todos reunidos no RESTAURANTE MARTINS em Genebra, faltava a presença dos convidados especiais Sr. Pe. Múrias e sobrinho Dr. Quimas, foi-lhes inteiramente impossível; tivemos a presença de um casal simpatiquíssimo de Cabo Verde (GOMES RODRIGUES), responsáveis pelo Departamento de Meteorologia e Geofísica do Aeroporto Amílcar Cabral – Ilha do Sal – Cabo Verde, que muito nos honrou.

Mas se havia alegria transbordante, no fim do jantar, veio de novo a consternação profunda, pela morte de Suas Exas. o 1º Ministro, Ministro da Defesa e restantes acompanhantes.

No dia seguinte, 05/12/1980, ao chegarmos ao Salão pusemos as nossas Bandeiras a darem a todos os Inventores presentes e visitantes de diversas Nacionalidades, o profundo sentimento de pesar que nos saía do coração, colocando um laço preto nas nossas ditosas BANDEIRAS e exemplo jamais esquecido, pelos nossos irmãos Espanhóis.

Tivemos a visita de centenas de Portugueses radicados e passantes na Suiça e no conjunto passou um visitante a quem eu comecei por explicar e exemplificar o funcionamento e aproveitamento máximo da energia calorífica da minha maqueta, num Francês, embora com algumas dificuldades na pronuncia, consegui fazer-me entender; até que esse Sr. Visitante me disse: “pode falar Português”, fiquei radiante perguntando: “O Senhor está cá há muito tempo?” Respondendo disse:”Estou cá em serviço no Consulado, sou o Vice-Consul”, despediu-se e foi-se embora, apenas perdendo tempo comigo e minha invenção.

Será que qualquer Delegação Portuguesa, deste ou de outro tipo representativa do meu PORTUGAL, não merece a visita mais demorada e interessada dos Senhores Cônsul ou Vice-Consul, em qualquer País, quer para um apoio moral ou material? Terão ou não essa autorização do Governo Central?

Será que mesmo depois dos meios de comunicação Suíços terem anunciado as classificações Portuguesas e o interesse dos visitantes em geral, pelo Sector Português, não merecia a Delegação e seu Responsável, umas palavras de felicitações, do mais alto responsável e representante do GOVERNO PORTUGUÊS na Suiça, Genebra?

Mas nem tudo é mau.

No dia 05/12/1980 pelas 10h00 recebo um telefonema, no Salão de Invenções de Genebra, procedente de Lausanne; era o Sr. Pe. Múrias a convidar todos os representantes Portugueses presentes, para um jantar, naquele dia, no “HOTEL DA MORTE LENTA” (dito pelo Sr. Pe. Múrias), aceitamos o convite e na viatura do Sr. António Ferreira dos Santos Cruz para lá nos dirigimos às 19h45 e onde chegamos por volta das 21h10.

Ambiente de pobreza, mas onde se respirou ar puro, semelhante ao dos lares de cada um de nós.

Comeu-se e bebeu-se, sendo o sacrificado, desde a despesa à confecção o Sr. Pe. Múrias, fazendo-o com a maior das satisfações, não nos resta duvida alguma.

Um bem-haja de todos nós e cá o esperamos para lhe retribuirmos.

Revdº. Padre António Augusto Múrias de Queirós
Revdº. Padre António Augusto Múrias de Queirós

Foi feita tábua rasa e um fechar de olhos ao:

Dec. Lei 60/81 de 02 de Abril e Portaria nº 978/82 de 18 de Outubro

 

É uma gota de água o Oficio nº 06018 de 30/06/1981 do C.A./D.S.I./Estado Maior do Exército que se segue, pois de tudo que não me foi feito e dado, recompensas monetárias concedidas por despachos e promoções é um nunca mais parar de descrições, tanto na parte Militar, como Civil.

 

Tudo preparado, até prospecção de mercado, já com 12.500 contos à disposição pelo I.A.P.M.E., mas por negligência do B.F.& B. – Stª Catarina – Porto, foi-me arquivada a Patente no Brasil, sem possibilidade de recuperação da mesma, tendo ido tudo pela água abaixo, por não ser mandado atempadamente 200 dólares, até 14 OUT 1982 e o Banco emitir o cheque, sabidamente caduco, em 02 NOV 1982. (Fico doente ao falar disto)

 

2ª Adição à Patente de Invenção nº 69.363, que no seu conjunto, deu origem ao grande interesse da (DSI) Direcção do Serviço de Intendência do E.M.E./Estado Maior do Exército.

Quando foi feito este ofício a pedir preço e prazo de entrega, com algumas alterações no fabrico em série, para substituição no Exército Português das cozinhas de Campanha Israelitas, a linha de montagem no CARREGADO pela Firma Manuel da Conceição Graça – Fabricante, estava quase pronta, ocupando toda a linha de montagem das carrinhas EBRO-ESPANHOLAS.

A Firma Comercializadora – VAJOPE, Ldª. – LISBOA.

Bastava tudo o que se encontra justificado na minha Auto-biografia - Mapa do Site - Inventos - MEDALHAS E DIPLOMAS INTERNACIONAIS, respectivas idas aos Salões de Invenções e resultados obtidos, requeridos sempre os respectivos averbamentos,  nos meus Documentos de Matrícula Militares, a fim de me ser dado e concedido o referido, no Dec. Lei nº60/81 de 02 de Abril e Portaria nº978/82 de 18 de Outubro.

Esta condecoração foi-me atribuída em 07/08/1990, pelo saudoso General C.E.M.E. Mário Firmino Miguel, que entretanto faleceu e  uma carreira recheada, com 3 Medalhas de Ouro – 3 Medalhas de Prata Dourada e 4 Medalhas de Prata adquiridas nas 8 (oito) idas, aos Salões de Invenções e Técnicas Novas, Mundial de Bruxelas e Internacional de Genebra, com inventos diferentes, foi tudo pela água abaixo e até a promoção a que tinha direito a Sargento-Ajudante SAM, pela antiguidade no posto de 1º Sargento SAM, 11 anos 8 meses e 12 dias (com promoção de 01/01/1970 a 12/08/1981 data da m/passagem à Situação de Reserva, por incapacidade adquirida ao serviço e pelo mesmo, na J.H.I./H.M. Principal, com 33% de desvalorização militar), tendo pedido, mais tarde, para ir a uma JUNTA DE SERVIÇO DE SAÚDE CIVIL que me atribuiu 63% de desvalorização, para descontos no IRS.

Posso não ver os resultados, a que me acho com direitos, legalmente adquiridos, mas lutarei até à morte, deixando bem presentes, as INJUSTIÇAS que durante a minha vida MILITAR (Activa, Reserva e Reforma) criativa e inventiva, me têm sido feitas, tanto no campo Militar como Cívil.